Câncer: um solitário aprendizado pela vida, com Maria Olívia Samek

Foi enterrada nessa terça-feira (26) em Curitiba, Maria Olívia Samek, mulher do ex-diretor geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek. Maria Olívia sofria há 17 anos de câncer.

Em outubro de 2015, durante uma série de reportagens sobre o Outubro Rosa – Mês de Conscientização ao Câncer de Mama – ela deu uma entrevista à Sobre Rodas. 

Naquela época, ela estava em constante tratamento e tinha sempre algo para ensinar. Mas aos poucos a doença foi se espalhando pelo corpo (metástase). Fica um ensinamento e um lembrete para todas as mulheres. O CÂNCER MATA, MAS HÁ TRATAMENTO.

Confira a reportagem

Aos 48 anos , Maria Olívia tinha uma vida como milhares de outras mulheres ao redor do planeta; filhos crescidos, bons amigos e planos de envelhecer bem. O mapa imaginário traçado logo foi interrompido pela confirmação de um câncer de mama.

Maria Olívia identificou o câncer em novembro de 2002, data onde tudo em sua vida ganharia novo rumo. A primeira impressão ao encarar o resultado dos exames que apontaram a existência da doença foi a mesma: mas por que eu? A pergunta, era frequente em sua cabeça, mesmo quando venceu a batalha pela primeira vez, e o câncer reapareceu seis anos depois. “O primeiro impacto, depois vem o choque de realidade, de que não há saída e que é preciso enfrentar sozinha”. Para ela, a doença trouxe pela primeira vez uma necessidade do isolamento e da solidão, como um recolhimento. “É uma dor solitária. Por mais que as pessoas estejam do seu lado, é você que está com uma sentença de morte. É uma dor somente de quem tem”, explica.

O longo processo de quimio e radioterapias, além de tratamentos paralelos podem durar anos e requer de cada paciente, uma dose extra de crença, paciência e fé.  Mesmo após ter concluído os tratamentos, a necessidade de ingestão de medicamentos faz-se necessária por períodos que variam a partir de cinco anos.

Aos 53 anos, Maria Olívia que já passou pela experiência duas vezes e hoje está em tratamento tem muito a ensinar. Ao longo do processo, ela optou por se afastar de alguns conhecidos deixando somente os mais íntimos por perto e resolveu conhecer de perto crianças que passavam pelo mesmo drama. “Com o tempo, aquela pergunta de “por que eu” foi sendo superada. Acompanhei casos de recém-nascidos. A doença não escolhe classe, cor, nível social, idade”. A experiência foi dolorosa, mas trouxe de volta muito entendimento; “foi desta experiência que defini como meta de vida a cura do câncer infantil. Fiz adoção de uma criança com câncer em parceria” e foi além, colaborando na articulação junto a deputados e senadores pela Lei 11.650/2008 que instituiu o Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil.

Além disso,  ainda dedica-se  na obtenção de recursos para a compra de equipamentos e materiais que auxiliam na identificação da doença e no seu tratamento. “Esta é minha meta de vida”.

A vontade de ajudar e transformar o sofrimento pessoal numa etapa de conhecimento e aceitação trouxe consigo um novo jeito de encarar a vida. “A família é importante, mas, os amigos são especiais. Hoje, eu sei que devo a vida a eles. Me fizeram sobreviver”, relembra.

Mesmo ainda na caminhada – são doze comprimidos por dia por mais dois anos – ela acredita e trabalha para uma recuperação diária. “O sentimento é de coragem, muita vontade de viver! Persistência, garra. Se a pessoa não lutar com unhas e dentes, não sobrevive. Acredito que a vontade de viver é mais forte do que as medicações para superar o câncer”, ensina.

Numa luta constante de superação a maior lição deixada é de viver o presente. “A doença me tornou uma pessoa com um olhar diferente para a vida, com vontade de sempre fazer o melhor que posso para todos, com um propósito maior. O que sempre me embalou foi a vontade de mudar o mundo”.  Aos olhos de quem aprendeu a ter gana pela vida, viver o hoje, é quase como um poema.

Foto: Caio Coronel

Campanha Outubro Rosa

A Campanha Outubro Rosa foi criada com o intuito de alertar as mulheres sobre a importância do auto-exame e da mamografia. Em todo país, prédios particulares e instituições públicas são iluminados com luzes cor de rosa para exaltar o pedido de prevenção ao câncer que mais mata mulheres ao redor do mundo.

A campanha salientou a informação de que mulheres a partir dos 40 anos devem realizar a mamografia uma vez por ano. Em caso de antecedentes na família (mãe, irmã, tia, avó), o exame pode ser feito antes – a partir dos 35 anos.

Mulheres mais jovens também correm o risco de ter a doença, mesmo sem histórico na família.

 

por Abilene Rodrigues e Daniela Valiente

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on telegram
Telegram
Share on whatsapp
WhatsApp