Cinco mil quilômetros pela América Latina, pela jornalista Cecília França

 

Foram catorze dias imersos em novas culturas, novos aromas e sabores. A bordo de uma Renault Duster 2014, partimos de Londrina (PR) rumo a Bento Gonçalves (RS), nossa primeira parada, após 935 quilômetros de viagem e muitos pedágios. Apenas no Paraná, foram cinco praças – Ortigueira, Imbaú, Tibagi, Palmeira e Rio Negro, última cidade do Estado – totalizando R$ 42,30.

Já no Rio Grande do Sul, a estrada para Farroupilha, via Caxias do Sul, mostrou-se bastante confusa, por isso, caso não tenha GPS no veículo, não tema em perguntar a direção para os moradores. Enfim, nem tudo seriam flores nesta viagem tão longa, mas a beleza do Sul compensaria. Após nos acomodarmos em uma pousada bastante agradável em Bento, passamos um dia nublado e chuvoso na vizinha Gramado.

Lindas ruas, cobertas por flores, e um comércio pujante compõem a cidade gaúcha – um paraíso para quem está com grana sobrando e pode se esbaldar nas lojas de roupas das mais variadas marcas. Também vá preparado para pagar caro nas entradas de museus (cerca de R$ 80). Alguns são imperdíveis, como o Hollywood Dream Cars para os amantes do mundo automotivo.

O museu é um verdadeiro parque de diversões. Além de clássicos das décadas de 1940 a 1960, conta com exemplares que pertenceram a Elvis Presley e Marilyn Monroe. Já os aficionados por motos não podem deixar de conhecer o Harley Motor Show, um museu ambientado da marca, com som bacana, chopp e petiscos para quem quer alongar a visita. O Dreamland, museu de estátuas de cera, vale pela diversão de tirar fotos com as mais variadas representações de artistas e celebridades.

Abrimos mão do almoço para provar o Bela Vista Café Colonial, uma exorbitância de quitutes e delícias localizada na rua dos museus, e não nos arrependemos. O preço segue a linha do exagero (“salgados” R$ 68,20 por pessoa), mas a deliciosa linguiça colonial, o lombo empanado e a cuca de uva valem cada centavo.

Dentre as atrações gratuitas imperdíveis em Gramado estão a igreja de São Pedro, uma bela construção de pedra no centro da cidade. Antes mesmo de entrar, já nos encantamos com estátuas em tamanho real dos doze apóstolos. Ao lado dela está a fonte do amor, onde casais apaixonados podem pendurar chaveiros com juras de amor eterno.

 

Uruguai e Montevideo

 

Após dois dias no Rio Grande do Sul, alcançamos a fronteira com o município de Aceguá, fronteira com o Uruguai. Lá, passamos pela imigração e preenchemos um cadastro de entrada, que precisou ser devolvido no ato de saída do país. O procedimento leva menos de dez minutos. A partir deste ponto da viagem, em terras estrangeiras, passa a valer a exigência de circular com a luz do veículo acesa.

Nossa primeira parada internacional foi em Melo, uma cidade de apenas 51 mil habitantes, mas muito charmosa e que serviu como porta de entrada para a fantástica gastronomia uruguaia. Chegamos sem reservar hotel em qualquer dos destinos, o que se revelou uma ousadia, já que fomos surpreendidos pelo alto valor das diárias.

Para que tenham uma ideia, o câmbio praticado girava em torno de R$ 0,11, ou seja, um peso uruguaio equivale a 11 centavos de real. Em Melo há poucos hotéis e o Crown foi o mais em conta que encontramos. A diária para casal nos custou $ 1.980 (R$ 217,80). Chegamos a pagar $ 120 por uma cerveja (R$ 13,20) em um restaurante. Por sorte, todos os estabelecimentos aceitavam cartão de crédito.

Na capital, muitos estabelecimentos restaurantes e hotéis adotam o dólar como base para os preços e/ou aceitam o real. Encontramos um hotel simpático no centro, o London Palace, situado a poucos metros da principal avenida da capital, a 18 de Julio. A diária saiu por US$ 75.

Milanesas, parrillas suculentas (o churrasco uruguaio), vinhos de uva Tannat e deliciosas sobremesas fizeram parte do nosso cardápio na capital uruguaia. 

Almoçar no Mercado Del Puerto é obrigatório. Sem dúvida, a melhor carne que provamos em todo o trajeto. No lanche da tarde, aproveite para provar as tradicionais empanadas em lanchonetes do centro (aliás, um bom truque para fugir dos preços altos é buscar os locais frequentados por nativos em detrimento daqueles pensados para turistas).

Montevidéu transpira história em seu centro antigo. Museus como o Histórico Nacional e o Romântico nos dão uma boa base da trajetória desse povo amigo e hospitaleiro. O Teatro Sólis, no coração de Montevidéu, oferece visitas guiadas em português. Do Mirador da Intendência (prefeitura) temos uma vista geral da capital. Tudo isto gratuitamente.

 

Outro programa gastronômico/cultural inesquecível (mas nem tão barato) é o restaurante Primuseum. Por US$ 70, você saboreia um jantar composto de quatro entradas, um prato principal e uma sobremesa, embalado por uma simpática banda de tango (sim, lá também tem). Tudo regado a bom vinho e água a vontade.

Montevidéu também tem uma região mais moderna à beira mar. Fomos até a praia de Punta Carretas, onde os prédios são mais novos e os hotéis mais caros – bem como os cafés. Optamos por deixar o carro no estacionamento do hotel e utilizamos o ônibus urbano, de fácil entendimento. A passagem sai mais barata que em muitas cidades brasileiras: $ 24 (R$ 2,64).

Argentina e a capital porteña 

Para quem está viajando de carro, existem duas opções para chegar a Buenos Aires, partindo de Montevidéu, barco ou estrada. A primeira é mais cara, mas a segunda, mais cansativa. Além disso, nem sempre temos a oportunidade de cruzar o Rio da Prata, por isso, pagamos exorbitantes $ 5.320 (R$ 585) em duas passagens mais o transporte do veículo e embarcamos na cidade fronteiriça de Colônia del Sacramento.

Desembarcamos na capital argentina perto das seis da tarde e fomos recepcionados pelo trânsito caótico da metrópole. Se soubéssemos, teríamos optado pelo barco da manhã, que chegaria por volta das 10 horas. Paramos em um hotel no centro, o Claridge, que cobra US$ 80 pela diária sem café da manhã, entretanto, compensa pela localização, a poucos metros da Rua Florida, próximo de pontos turísticos e com rápido acesso ao metrô.

Buenos Aires é bem mais cosmopolita, conserva ares europeus nos trajes dos nativos e no cardápio dos cafés. Cafés que, por sua vez, funcionam full time e oferecem desde o desayuno até o jantar. Dois dos mais famosos e que vale a pena conhecer, apesar de não estarem entre os mais baratos, são Tortoni e London City, ambos na Avenida de Mayo. No primeiro, pagamos $ 185 em café da manhã para dois (R$ 62,90, considerando a cotação de R$ 0,34 do peso argentino).

Entre uma refeição e outra, quem gosta de arte e história deve visitar a Plaza de Mayo, a Catedral e a Plaza del Congresso, onde se encontra um dos oito exemplares existentes da estátua O Pensador, de Rodin. Ali mesmo, ao ar livre. Depois, use o metrô para chegar até o Museu de Arte Latino Americana (Malba), que conta com preciosidades no acervo, como um autorretrato de Frida Kahlo, O Abaporu, de Tarsila do Amaral, e telas de Candido Portinari.

A passagem do metrô custa apenas $ 5, mas a malha não cobre toda a cidade, portanto, às vezes é preciso recorrer ao táxi ou à coragem de andar bastante a pé. Fizemos isso para chegar ao bairro de San Telmo, onde existe a esquina da Mafalda. A estátua da perspicaz garotinha fica sentada em um banco a espera de turistas. O bairro é muito atraente para quem busca bons restaurantes e lojas, principalmente, de roupas de couro.

Tango

Nas ruas de Buenos Aires o assédio aos turistas é constante. Tem muita gente oferecendo câmbio, passeios e shows. Quanto aos shows de tango, os próprios hotéis contam com uma lista deles e fazem as reservas para os hóspedes. É um programa manjado, mas não dá para ir a Buenos Aires sem fazê-lo.

Estivemos na Esquina Carlos Gardel, que nos cobrou US$ 100 por pessoa pelo jantar e pelo show, com cerca de três horas de duração. Foi um verdadeiro espetáculo, com dez dançarinos e um cover do cantor argentino, nada do clima intimista vivenciado em Montevidéu. Para quem aprecia a música, um verdadeiro deleite.

A estrada

Nos preparamos para pegar a estrada bem cedo rumo a Córdoba, cidade histórica a 695 quilômetros de Buenos Aires. Nas autopistas, como eles chamam, a velocidade máxima permitida é de 130 km/h e o asfalto, bem cuidado (pudera, existem sete praças de pedágios no trajeto).

Universitária, a cidade de Córdoba abriga a segunda Manzana Jesuítica mais antiga da América Latina, construída no século XV e tombada como patrimônio da humanidade pela Unesco. Na visita guiada pudemos entender a importância da igreja de pedra para a sociedade no período de ocupação pelos espanhóis.

Mas foi a apenas 20 quilômetros de Córdoba que descobrimos um pequeno pedaço de paraíso: Carlos Paz e seu lindo lago San Roque. A paisagem é de tirar o fôlego, tamanha a beleza das águas límpidas e do entorno. São vendidos passeios por ele ao longo do dia, no entanto, tínhamos apenas uma manhã para aprecia-lo antes de partir rumo ao Brasil.

A região também é famosa por seus hotéis serranos, mas estes teremos que conhecer em uma próxima aventura. Voltamos ao Brasil por Uruguaiana (RS), cansados, mas com maravilhosas lembranças na bagagem – como vinhos e alfajores – e, principalmente, na memória.

Dicas

-Blogs de brasileiros residentes no exterior auxiliam a economizar, buscar hotéis, restaurantes e pontos turísticos. Para Montevidéu, vale acessar o “Uruguai por uma brasileira” e para Buenos Aires o “Aquí me quedo”, da jornalista Gisele Teixeira.

-Nos dois países, os restaurantes oferecem carnes e guarnições separados, o que pode encarecer o prato; pedir o menu executivo ou o prato do dia é uma forma não menos saborosa de economizar.

-Leve um pouco de dinheiro vivo de cada país por onde irá passar, para pedágios e estabelecimentos que não aceitam cartões.

-Reserve os hotéis com antecedência e prefira as regiões centrais das cidades, a partir delas fica fácil chegar à maioria dos pontos turísticos e sempre há bons restaurantes próximos.

– Evite trocar dinheiro na rua em Buenos Aires, há muitos boatos de circulação de nota falsa. Ainda é mais seguro enfrentar o câmbio desfavorável das casas oficiais.

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