Os caminhos do autoconhecimento, a busca do sucesso e do bem estar, o trabalho e o envelhecimento foram alguns dos destaques do VII Congresso Internacional de Felicidade, que aconteceu no último fim de semana (2 e 3 de novembro), em Curitiba. O maior evento sobre o tema na América Latina reuniu cerca de 2 mil pessoas de todo país com uma programação com convidados internacionais e brasileiros das áreas de ciência, filosofia, arte e espiritualidade.
Mestre em estudos da felicidade pela Centenary University e idealizador do evento, Gustavo Arns abriu o Congresso destacando a revolução que vem acontecendo sobre o tema, desde a primeira edição, em 2016 – levando a temática inclusive para dentro das empresas. “A principal reflexão, desde o início da ciência da felicidade, é o que faz a vida valer a pena. O Congresso Internacional de Felicidade é um convite para que todos estejam abertos a receber novas respostas e a fazer novas perguntas.”
Autoconhecimento
Para o mestre espiritual Sri Prem Baba, estamos em meio a uma revolução de consciência e, para realizarmos a felicidade plena, é preciso erradicar o que chama de “violência do sistema”. “Isso passa por eliminar a violência de nós mesmos – o vitimismo ou do jogo de acusações. Quando você se percebe reclamando da vida, está sendo tragado para as dimensões inferiores. Coragem de interromper esse ciclo e mudar”, defende o autor de obras como “Transformando o Sofrimento em Alegria e Propósito”.
Renunciar ao vício de olhar para os defeitos do outro e olhar para os seus próprios, na visão do pensador, é a base da verdadeira felicidade. “Aquela que não depende do outro reconhecer ou validar, nem de conquistas materiais.”
A filósofa indiana e líder transformacional Sri Preethaji, fundadora da conceituada escola de filosofia Ekam Oneness, participou do evento pela primeira vez e também falou sobre a responsabilidade individual na construção da felicidade. “A escolha mais importante que você vai fazer na vida não é a sua profissão ou quem é o seu parceiro. Mas em qual estado interno você vai viver: no estado belo ou no stress”, diz. “Seu estado é o que você está comunicando. Dele depende o fluxo de acontecimentos que você vai ter na sua vida, porque ele traz para perto de você pessoas nessa mesma sintonia”, defende.
O escritor e professor paraense Daniel Munduruku, pertencente ao povo indígena Munduruku, graduado em Filosofia e doutor em Educação, começou sua palestra em silêncio por alguns minutos – provocando a plateia a pensar sobre a importância do silêncio. “Essa é a arte mais importante que temos que dominar: a de escutar a si mesmo, o que está dentro de nós.”
Um dos mais importantes pensadores atuais, o professor doutor Clóvis de Barros Filho reforçou a importância do autoconhecimento e da conexão com o momento vivido nessa trajetória. “É comum termos a mente no passado ou no futuro, naquilo que está por vir ou gostaríamos que aconteça. A mente raramente acompanha o corpo nas experiências. Mas é nesse momento que o prazer costuma acontecer. Isso não nos permite exaurir tudo que podemos”, disse.
Livre-docente pela Escola de Comunicações e Artes da USP, Barros Filho falou sobre os quatro elementos fundamentais para uma vida boa: prazer, autoconhecimento, autoestima e autoconfiança. “O prazer não basta para uma vida boa, embora seja um grande valor. Precisamos de mais. E isso inclui o prazer que proporcionamos ao outro, como impactamos o mundo e permitimos melhorar a humanidade”.
A importância do bem coletivo na construção da felicidade foi destaque também nas palavras da Monja Coen. Em sua palestra, Monja falou da importância do autoconhecimento e do impacto da atitude de cada um na construção do ser feliz. “O que o mundo não nos traz só alegria. Mas como eu transformo isso em algo melhor para o maior número de pessoas, em qualquer época?”, questiona. “Somos criados em uma sociedade individualista. Mas precisamos sair da primeira pessoa do singular. Quando eu me transformo, o mundo também se transforma”, disse a monja zen budista brasileira e missionária oficial da tradição Soto Shu, com sede no Japão.
Durante o Congresso, Monja Coen lançou o livro “Ser feliz: é possível?”, escrito em coautoria com o professor e idealizador do Congresso, Gustavo Arns. A publicação, explica o idealizador do Congresso, traça paralelos entre a ciência moderna e o conhecimento da filosofia milenar e tradições espirituais em torno da felicidade. “Ele foi escrito a partir de um diálogo entre a Monja e eu e as nossas trocas de experiências sobre o tema”, explica Arns.
Bela velhice
Mirian Goldenberg, doutora em Antropologia Social, colunista do jornal Folha de S. Paulo e da Vogue e autora de mais de 30 livros, falou sobre felicidade na perspectiva do envelhecimento. Mirian apresentou dados sobre uma série de estudos que fez ao longo das últimas três décadas com mais de 5 mil pessoas a partir de 60 anos.
Eles mostraram uma curva de felicidade em formato de “U” – ou seja, que tem o ápice no seu nascimento e retorna aos 80 anos. “Na média, os bebês têm tudo o que precisam para ser feliz. E essa curva vai caindo ao longo da vida, quando a pessoa começa a crescer e receber os ‘nãos’”, conta. “Por volta dos 45 anos, chega aquele momento que as pessoas, principalmente as mulheres, pensam: não sou nem jovem, nem velha – o que eu posso e não posso fazer? Em geral cuidam de filhos, marido, pais, trabalho e da casa e não se sentem reconhecidas. Quando chega a velhice, chega uma espécie de libertação”.
Para a jornalista, essa libertação vem acompanhada de uma espécie de invisibilidade social. “Essa contradição é importante para viver a chamada bela velhice. Já que me tornei invisível, cuidei de todo mundo e não de mim, agora é minha hora. Vou fazer o que eu sempre quis e nunca fiz.”
Mirian destaca três pontos importantes para a felicidade na velhice: autonomia, amizade/amor e alegria de viver. “A gente não pode brigar com a velhice. A gente tem que brincar com a velhice. É uma fase na qual podemos de fato ser a criança que nunca deixamos de ser.”
Sucesso
Normalmente muito associado à felicidade, o sucesso foi tema do painel mediado pela professora de neurociência e saúde mental Aline Castro. “A definição do que é sucesso é algo muito particular e vai mudando ao longo da vida, assim como as nossas prioridades. A gente muitas vezes se confunde querendo que as pessoas que amamos sigam determinados caminhos achando que sabemos o que é sucesso para elas”, diz Aline.
Sheilla Castro, uma das atletas de vôlei mais premiadas do país e bicampeã olímpica, participou do painel ao lado da jornalista Mariana Ferrão e da empresária Cris Dios. Sheilla falou sobre essa mudança de perspectiva e da sua definição de sucesso ao longo da carreira. “É claro que a conquista das medalhas foi uma grande felicidade. Mas o sucesso para mim hoje é muito mais o meu dia a dia. É fazer o que eu quero e com as pessoas que eu amo, transbordando energia boa, gratidão e harmonia”, disse a atleta.
“Sucesso não é um ponto de chegada. Hoje tenho 46 anos e entendo o que é fazer uma caminhada de mãos dadas o tempo inteiro com o que é essencial. É manter a coerência, a verdade interna que eu busco diariamente”, completou a Mariana Ferrão.
Felicidade corporativa
A felicidade no trabalho também foi discutida durante o Congresso. A diretora de Felicidade da Heineken Brasil, Lívia Azevedo, subiu ao palco ao lado da cientista e pesquisadora Juliana Sawaia para apresentar o case da marca e os resultados positivos da companhia desde a criação da área, há cerca de 2 anos.
Juliana trouxe dados que comprovam o impacto da felicidade nos negócios. “Equipes felizes são 25% mais produtivas e têm mais probabilidade de colaborar. E um estudo feito com mais de 1500 empresas listadas na bolsa americana revelou que quanto maior o índice de bem estar, maior o lucro.”
No caso da Heineken, segundo Lívia, a companhia colocou a felicidade como estratégia de negócio. “É por meio das pessoas que teremos os melhores resultados. Então, nosso primeiro passo foi buscar dados. Começamos uma pesquisa quinzenal sobre felicidade, que tem hoje um índice de resposta de 82% e nos traz insights importantes”, explica.
A cervejaria também selecionou 1.400 “embaixadores da felicidade” – que são voluntários e participam de um programa de formação com encontros semanais. “Eles recebem conceitos da ciência da felicidade e nos ajudam a replicar em todas as áreas e unidades da companhia. Também focamos em desenvolver nossos líderes.”
Para o especialista em Felicidade Corporativa e mestre em Psicologia Positiva, Henrique Bueno, a maior parte de nós acha que as circunstâncias da vida vão fazer um grande efeito na construção da felicidade. “As organizações também. Então elas acham que vão resolver os problemas de saúde mental trazendo benefícios de fora”, diz. “Mas são pequenas ações com consistências que podem mudar tudo. A crise de saúde mental que temos hoje é uma crise de estilo de vida.”
O navegador Amyr Klink, pioneiro na solitária travessia do Oceano Atlântico em um barco a remo, encerrou a sétima edição do Congresso contando algumas das suas histórias em alto mar. Falou sobre a mudança de perspectiva frente aos problemas e como suas viagens mudaram a sua percepção em relação ao tempo. “O tempo é a única grandeza que a gente não recicla, ou retarda. Você entende que é feliz quando entende a importância de aproveitá-lo”, diz. “A felicidade é feita de experiências autênticas. O mais importante na vida é o caminho que a gente constrói, as histórias que a gente escreve.”
Sobre o Congresso Internacional de Felicidade
O Congresso Internacional de Felicidade reúne os maiores palestrantes do Brasil e do mundo para abordar o tema da felicidade a partir da ciência, arte, filosofia e espiritualidade. É um mergulho profundo de autoconhecimento e autodesenvolvimento pessoal e profissional. Um momento de reflexão acerca do que é a Felicidade e como podemos ser mais felizes a partir de múltiplos olhares com uma visão integral do ser humano. Mais informações no site https://www.congressodefelicidade.com.br/