Segundo para-atleta, sobre rodas, vítima de uma distrofia muscular, ele ganhou quatro medalhas de ouro nas Paraolimpíadas de Londres e China. Se pudesse escolher, Dirceu optaria voltar a andar, mas segundo ele a vida melhorou muito depois que descobriu o esporte para cadeirantes.
As duas primeiras medalhas vieram quando Dirceu e a família bancavam os treinamentos. Só depois ele conseguiu patrocínio. Hoje, ele faz parte do Time Nissan e ainda recebe recursos do governo federal e do estado de São Paulo.
De acordo com o para-atleta, nenhum deficiente físico deve ficar em casa, com depressão. O esporte é uma boa opção.
Sobre Rodas: Qual a emoção de ganhar quatro medalhas de ouro olímpicas?
Dirceu Pinto: A emoção da primeira medalha de ouro foi indescritível. Eu era o último no ranking mundial nas Paraolimpíadas de Pequim, na China. Fui apenas para participar e quando percebi já estava na final. Ganhei a medalha competindo com o primeiro colocado no ranking. Ninguém ganhava dele havia mais de seis anos. Quando começou a tocar o hino nacional, eu chorei muito.
SR: Você treina desde quando?
DP: Comecei a treinar em junho de 2002 socialmente para sair de casa. Eu ficava muito tempo em casa. Um professor me viu e percebeu que eu tinha potencial. Ele começou a me treinar, já pensando na Paraolimpíada. Seis anos depois conseguimos a vaga e ganhamos a medalha de ouro.
SR: O que é mais difícil vencer?
DP: Hoje, o mais difícil é o treinamento. É muito repetitivo. Se eu pego uma jogada, eu repito até cinco mil vezes. Tento não ser perfeito, mas errar o menos possível, pois vence quem erra menos. Essa é parte chata da minha vida.
SR: Como era a sua vida antes da cadeira de rodas?
DP: Se Deus me desse a chance de escolher a voltar a andar, com certeza eu voltaria, mas a minha vida de hoje é muito melhor se comparada à época em que eu andava. Eu estava me envolvendo com drogas, bebidas e desobedecia meus pais. A partir do momento que comecei a usar cadeira de rodas, a minha vida foi transformada. Um dos melhores acontecimentos foi descobrir o esporte.
SR: Quanto tempo na cadeira de rodas?
DP: Hoje tenho 35 anos. Passei a usar a cadeira de rodas aos 26. Eu sou vítima de distrofia muscular de cintura, onde vai perdendo os movimentos das pernas, abdome e bíceps. Nasci com essa doença. Aos poucos fui perdendo as forças e há nove anos deixei de andar. Desde os 16 anos desejava ser atleta. Eu nadava, mas não conseguia devido à fraqueza das pernas.
SR: Sempre foi fácil? Qual a maior dificuldade?
DP: Quando iniciei na bocha, mesmo com dificuldade eu ainda andava e usava a cadeira apenas para jogar. Na época eu recebia um benefício do INSS e pagava o treinamento com o dinheiro. Era o meu sonho representar o Brasil numa paraolimpíada. Meus pais e meus amigos me ajudavam. Em 2008, conquistei duas medalhas de ouro na China, mas não mudou nada, continuamos bancando os treinos. Mesmo sem patrocínio, não desisti.
Em 2010, ganhei o Mundial de Bocha, mas também não mudou nada. Em 2012, os projetos começaram a chegar na vida. Hoje, recebo do Time Nissan, que me patrocina e me prepara para as Paraolimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. Também recebo ajuda da Caixa Econômica Federal e Bolsa-Atleta do governo de São Paulo.
Hoje eu vivo do esporte e cuido da minha família. Eles trabalham comigo hoje. Trabalho na Prefeitura de Mogi das Cruzes. Cuido de um projeto paraolímpico que atende 347 crianças com alguma deficiência. E também buscamos apoio de outras empresas. A ideia é tirá-los de casa e integrá-los na sociedade através do esporte.
SR: Qual a sua dica para pessoas que, assim como você, têm alguma deficiência ou alguém que queira ser um atleta?
DP: Procurem clubes e projetos que busquem investir no esporte. Se não quiser ser atleta de alto rendimento, faça apenas socialmente, pelo menos para sair de casa e evitar uma depressão. A vida vai mudar.
(Box)
Bocha: entenda o esporte que Dirceu pratica
Bocha (português brasileiro) ou boccia (português europeu) é um esporte jogado entre duas equipes, sendo seis bochas (bolas) para cada equipe na modalidade trio, quatro bochas na modalidade dupla, duas para cada atleta, e quatro também na modalidade individual, em que dois jogadores, um de cada equipe, enfrentam-se individualmente.
O esporte consiste em lançar bochas (bolas) e situá-las o mais perto possível de um bolim (bola pequena), previamente lançado. O adversário, por sua vez, tentará situar as suas bolas mais perto ainda do bolim, ou “remover” as bolas dos seus oponentes.
A origem da bocha (conforme alguns historiadores) remonta a um jogo praticado no Antigo Egito e na Antiga Grécia, em que se usavam objetos de formatos esféricos – pedras redondas.