Durante cinco dias, os jornalistas conheceram as primeiras marcas deixadas pelo homem no país, que naquela época nem era chamado de Brasil. Em paredões de pedra, foram encontrados desenhos (arte rupestre*) com mais de 8 mil anos. O grupo foi acompanhado pelo arqueólogo Carlos Alberto Etchevarne, que estuda há mais de 30 anos os sítios arqueológicos da Bahia e é professor da Universidade Federal da Bahia.
Além de testar a Frontier, o grupo escalou morros e percorreu trilhas. Foram 421,15 quilômetros de asfalto; 188,43 quilômetros de terra e 12,62 quilômetros a pé. Ao todo, foram 620,76 quilômetros.
Segundo o diretor de Comunicação da Nissan, o objetivo da montadora é valorizar o Brasil. “Expedição toda montadora faz, mas queríamos algo que não apenas mostrasse a performance da picape, mas valorizasse a cultura brasileira. Resolvemos começar do início. Conhecendo os sítios arqueológicos, para conhecer a história do país”. A expedição já passou por Mato Grosso, Minas Gerais e Piauí e agora, pela Bahia.
Toca da Figura e Lagoa da Velha
No primeiro dia, o grupo visitou os complexos arqueológicos mais significativos do estado, o da Toca da Figura e o da Lagoa da Velha. Situados no município do Morro do Chapéu, na Chapada Diamantina, ambos preservam pinturas rupestres de animais, vegetais, formas geométricas e humanas com mais de 3 mil anos de existência, que misturam diversos tipos de tradições rupestres.
Na Toca do Figura todos conheceram as representações ancestrais da chamada ‘Tradição Nordeste’ que é caracterizada pelas figuras de antropomorfos (forma humana ou que se assemelha à de um ser humano), zoomorfos (que se assemelham a animais) e fitomorfos (que se assemelham à vegetação) com a ideia de movimento, como se as representações estivessem numa intensa mobilidade.
Depois o grupo seguiu em direção ao complexo arqueológico da Lagoa da Velha. Antes de ver mais figuras rupestres no sítio do Abrigo do Sol, a Nissan oficializou o legado da passagem do projeto pela região aos dois Complexos. A empresa japonesa vai colaborar com o projeto de instalação de sinalização de indicação para o acesso aos locais, na área de visitação, além da colocação de corrimões, passarelas, entre outras instalações.
Toca do Pepino e Pedra do Boiadeiro
O segundo dia da Expedição começou logo cedo. Em nova trilha off road, e quase 5 quilômetros de trilha, os expedicionários conheceram a Toca do Pepino, no complexo arqueológico da Ventura, e a Pedra do Boiadeiro, no complexo da Lago da Velha.
A Toca do Pepino é um grande abrigo utilizado por caçadores há milhares de anos. Conta com um grande paredão, de aproximadamente 90 metros, repleto de pinturas rupestres. Ali também existem duas grandes paredes com representações, separados por uma fenda. Entre as figuras da Toca do Pepino, destaque para as representações de fitomorfos, com algumas delas mostrando troncos, galhos, folhas e frutos. Outras figuras que chamam a atenção no local são as com humanos bem pequenos, as de um grande grupo de homens enfileirados e as com cenas compostas por rituais que muitos pesquisadores acreditam ser imagens de homens com cocares e ferramentas como cestas, tacapes e lanças.
A parte da tarde reservou a visita à Pedra do Boiadeiro, que tem conjunto de painéis rupestres em afloramentos rochosos, cujos destaques são pinturas de animais policromáticos.
Serra das Paridas
No terceiro dia da aventura, a bordo da Frontier, o grupo chegou ao Complexo Arqueológico Serra das Paridas, aos redores da cidade de Lençóis. No local, foi possível ver vestígios de pessoas que passaram ou habitaram pela região há mais de 8 mil anos.
Segundo o arqueólogo, Carlos Alberto Etchevarne, foi possível chegar a esta conclusão após meses de pesquisas. A equipe dele (formada por sete pessoas) há quatro anos foi até a Serra das Paridas para estudar as pinturas rupestres. Durante mais de 10 dias, além de analisar cada um dos traços deixados nos paredões de rochas, eles fizeram algumas escavações. Em uma delas, quando atingiram 40 centímetros abaixo da areia, encontraram fragmentos de duas fogueiras. “Encontramos resquícios sílex (rocha sedimentar) e material radioativo de baixa radioatividade (carvão). A matéria-prima foi enviada para um laboratório americano que atestou a idade do material: 8 mil anos”, disse.
Um dos desenhos que mais chama a atenção são imagens de mulheres em posição de cócoras. Também símbolos masculinos e femininos, muito usados na Europa.
Essas imagens somadas a lenda de que há muitos anos os catadores de mangaba (fruta típica da região) diziam que as vacas prenhas saiam das fazendas em direção ao morro para parir.
Pai Inácio
O quarto dia da expedição foi na cidade de Lençóis. Nesse dia o objetivo não era ver pinturas rupestres, mas conhecer um pouco mais da região. Um dos pontos mais interessantes, é o Morro do Pai Inácio.
A 1.120 metros de altitude, o morro do Pai Inácio descortina a mais bela vista panorâmica da Chapada. São 360 graus de paisagem de tirar o fôlego. Para chegar ao topo, é necessária uma subida íngreme de 300 metros. Ele fica localizado na cidade de Palmeiras, a 22 quilômetros do centro de Lençóis.
Segundo conta a lenda, um escravo chamado Inácio, que tinha como proprietário um poderoso fazendeiro da região de Lençóis na Bahia, nos tempos do Império antes da promulgação da Lei Áurea, se apaixonou pela sinhazinha filha do fazendeiro.
Durante certo tempo, viveram um romance escondido, mas quando foi descoberto, o grande fazendeiro enfurecido com o fato, ordenou ao capataz que tirasse a limpo aquele absurdo e caso fosse confirmado era para tortura-lo e mata-lo. A sinhazinha mais que depressa, contou ao seu amado que estava jurado de morte. Inácio aceitou fugir com a promessa de que iriam se encontrar e ficar juntos para sempre. Se despediram rapidamente antes que o capataz pudesse surpreendê-los.
O escravo Inácio deu início a sua fuga. Muito esperto e conhecedor da região, conseguiu se esconder por um bom tempo, mas com a pressão do fazendeiro, incluindo recompensa, as buscas ficaram mais acentuadas.
Certo tempo depois chegou ao capataz uma notícia segura do paradeiro do escravo, que ele havia sido visto num riacho próximo e abaixo de um morro. Quando teve a ideia de se esconder no topo do morro a sua frente. Como era uma tarde chuvosa e escurecida, ele conseguiu se distanciar e escapou, logo ao anoitecer começou a subir morro acima.
Quando não conseguiu mais fugir, grudado em sua sombrinha, o negro Inácio correu para a beira do morro que ficava a uns trezentos metros de altura. E ao sentir que os capangas se aproximavam atirando cada vez mais, deu um salto fantástico para o precipício e que a sobrinha se abriu em sua mão sumindo de vista dos capangas que o perseguiam.
Estes ficaram atordoados, pois nem sinal do escravo, ele simplesmente tinha sumido no ar. Ledo engano.
Algum tempo depois a sinhazinha voltou a sair de casa e a encontrar com seu amante numa grutinha junto ao morro. Tomava muito mais cuidado para não serem descobertos, mas acabou engravidando. O pai da moça que já estava doente de tanta raiva que passou, piorou muito mais a sua saúde, e morreu.
Foi então que os sonhos do escravo Inácio e sua sinhazinha se realizaram. Assumiram o romance, tiveram um filho e viveram felizes pelo resto de suas vidas. Daí surgiu o nome do morro em homenagem à Inácio.
*Arte Rupestre
Arte rupestre é o termo que denomina as representações artísticas pré-históricas realizadas em paredes, tetos e outras superfícies de cavernas e abrigos rochosos, ou mesmo sobre superfícies rochosas ao ar livre.
Abilene Rodrigues