Narrativas poderosas capazes de provocar mudanças. Assim escritores e escritoras que integraram a programação da 19.ª Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu, no último sábado (9), levaram ao público reflexões sobre a invisibilidade de grupos minoritários, como negros e mulheres, no universo da literatura.
O primeiro a falar com o público foi o professor Jester Furtado, autor do livro Joaquim, Negra sim!. “Interessante poder apresentar um recorte social da nossa história, que é a história do Brasil, que durante muito tempo se valeu da presença negra, mas quando pôde negou essa presença no campo intelectual, de mando e comando do nosso país.”
Poder apresentar um protagonista jovem e negro, segundo ele, possibilita maior representatividade. “Poder comunicar com essa criança preta, menino, menina, que pode ser um dia um escritor, se deleitando com personagens negros e se vendo, isso é muito importante. Hoje, os autores negros são muitos, e a ideia é que os professores possam se apropriar desse conteúdo e contribuir para uma sociedade não racista.”
Mulheres na literatura
A invisibilização do trabalho feminino, especialmente na literatura, também foi abordada, pela escritora Cida Pedrosa e convidadas Cleusa Gomes, Cristiane Checcia e Sophia Ruiz, na mesa “Literatura e fronteira: a estética fora do eixo”.
“A elite domina os prêmios, a academia. Na medida que as mulheres se organizaram, elas foram sendo proibidas de escrever. Poesia era para filhas da elite, que escreviam sobre amor. Aos homens, os direitos produtivos, e às mulheres, o reprodutivo. Para nós, a palavra é privada. A elite não quer perder o espaço de poder”, disse a autora.
Para a historiadora Cleusa Gomes, que pesquisa sobre o tema e reescreve a história para resgate dos nomes femininos, os cânones literários têm contribuído para esse apagamento. “A história é feita por homens, as mulheres sempre escreveram e sempre foram invisibilizadas pelo cânone. A escrita é um potente instrumento para recuperar essa história, permitindo novo olhar sobre a história, e lança para o futuro um novo olhar.”
Diante desse novo cenário, Cida revela que a literatura é um mecanismo de transformação. “A tradição da poesia no Brasil ainda é masculina, mas há a necessidade de recuperar os nomes de todas as mulheres, por isso precisamos ocupar os espaços.” Cida, que também é vereadora, realça que o acesso à cultura e à escrita é um direito e precisa estar em destaque nas políticas públicas.
Na plateia que acompanhou a palestra estava o prefeito Chico Brasileiro. “É com muita alegria que recebemos uma voz tão potente quanto a de Cida, que nos enche de esperança com um olhar feminino transformador.”
Cida, reconhecida pela luta acerca de temas sensíveis como a questão palestina, foi presenteada com um hijab (lenço palestino). “Minha militância é política e literária. Faz parte da vida do escritor independente, que veio depois da escrita marginal de Leminski, entender que a arte precisa chegar onde estão as pessoas.”