O fim do carro próprio?, por Nicolas Brusson

Os modelos de posse do carro quase não mudaram nos últimos 100 anos., No entanto, à medida que as estradas ficam mais lotadas, os recursos naturais tornam-se mais escassos, e a conectividade se espalha, parece ter chegado a hora de otimizar o uso do veículo.

Enquanto as tradicionais empresas do setor automotivo e líderes de tecnologia correm para projetar o carro do futuro, a visão popular é de que em poucos anos, uma série de atores do ramo da mobilidade vão contar com frotas de carros autônomos em grande escala, disponíveis para uso sob demanda. 

Esse é um cenário realista? Tenho minhas dúvidas. Acredito que as pessoas ainda tenham o desejo de possuir um carro próprio, mesmo se dirigem ou não, tanto por conforto, quanto por conveniência. E não é só isso: os novos modelos de posse do carro, baseados no uso compartilhado, vão permitir que a posse de um veículo seja cada vez mais simples e acessível. Confira uma outra perspectiva para o futuro da propriedade do carro.

O carro  domina as viagens de longa distância

Ter um carro próprio em grandes centros urbanos tem cada vez menos sentido. Se a sua prioridade é chegar de um ponto A  a um ponto B da maneira mais rápida e barata possível, o transporte público e os aplicativos de transporte individual farão esse papel, poupando-lhe o custo e os inconvenientes de possuir um carro.

Mas para as milhões de pessoas que vivem fora das grandes cidades, ou que frequentemente precisam sair desses centros, a história é outra. Cerca de 80% das viagens de longa distância (60-500 milhas / 100-800 km) na Europa são feitas de carro, e isso acontece porque acabam sendo mais acessíveis e convenientes, permitindo que os viajantes se desloquem precisamente de um ponto específico para outro. Há menos alternativas de transporte fora das cidades, e na maioria das vezes, elas também são mais caras.

À medida que os automóveis se tornam significativamente mais inteligentes e autossuficientes, a conveniência das viagens de carro só aumenta e a tendência é de que elas dominem os trajetos de longa distância. Nesses segmentos, as soluções intermodais, que funcionam muito bem em distâncias mais curtas, não são tão sujeitas à promoção em larga escala devido à sua falta de conveniência. Quanto mais os carros se tornam inteligentes e confortáveis, mais eles continuarão sendo os preferidos para percorrer longas distâncias.

Meu carro (autônomo)

A tecnologia por trás de veículos autônomos está progredindo, mas eles não estarão em sua garagem amanhã. Primeiramente, seus apoiadores devem superar barreiras legais – e os veículos têm um prazo para serem comercialmente viáveis. Levará um tempo para que a frota carros existente hoje seja substituída inteiramente, o que significa que os veículos autônomos devem se transformar em uma alternativa viável para você em não menos do que 10 a 15 anos. Segundo a McKinsey, até 15% dos carros novos poderão ser totalmente autônomos em 2030.

Isso, claro, é uma ótima notícia para todos. Menos tempo perdido dirigindo, menos acidentes devido a erro humano. Tudo faz total sentido. Porém, eu não acho que isso vá mudar o nosso desejo de possuir um carro. Muito pelo contrário.

Com a exceção daquelas apaixonadas pela direção, a maioria das pessoas não possui um carro porque querem dirigi-lo. Elas o possuem porque querem um carro específico que atenda às suas necessidades pessoais e porque o consideram uma extensão do seu espaço privado. Seja o assento de bebê especial que você escolheu com cuidado para seu filho menor, ou a raquete de tênis no porta-malas, o carro é um espaço pessoal que as pessoas gostam de personalizar para as suas necessidades e desfrutar com toda a liberdade. Acredito que esse caso será cada vez mais comum quando os carros autônomos estiverem por perto, uma vez que irão transformar o tempo improdutivo de condução em entretenimento ou trabalho, mantendo as vantagens do custo de retenção e conveniência sobre as formas alternativas de transporte.

O carro como serviço

Ao longo dos últimos anos, temos testemunhado a evolução da cultura de posse pela cultura de usoem várias categorias de ativos. O status social é agora definido pelo acesso inteligente a coisas e não pela propriedade em si.

No último mês, anunciamos uma nova parceria com a ALD, a principal empresa de leasing europeia, e a Opel, para oferecer aos embaixadores BlaBlaCar (os nossos membros mais ativos) acesso exclusivo a uma seleção de pacotes de “carro como serviço”, incluindo leasing por preço mais baixo, garantia e serviços de manutenção.

Além disso, também estamos explorando a ideia do uso financiando o acesso. Dentro desta parceria, todo mês que der caronas, o usuário terá um desconto em seu leasing mensal. Embora a gente ainda não tenha chegado lá, é fácil imaginar um futuro próximo no qual o uso compartilhado do carro financie seu contrato de aluguel. Este seria um esquema de financiamento inovador, desfazendo modelos clássicos de propriedade e revolucionando a nossa relação com o carro.

O carro do futuro é o carro compartilhado

Imagine um mundo de veículos autônomos altamente conectados, onde novos carros – disponíveis como serviço e financiados pelo uso compartilhado -, serão customizados de acordo com as necessidades dos usuários, que agora dedicam seu tempo de viagem a uma boa causa. Enquanto isso, os custos de deslocamento serão otimizados por meio do compartilhamento – seja por meio da carona, do compartilhamento do carro ou do estacionamento compartilhado. Esse é o futuro.

Proprietários de frotas vão alugar ou disponibilizar via leasing carros para indivíduos que, empoderados por plataformas de compartilhamento peer-to-peer, irão financiar o seu acesso ao “carro como um serviço” e reduzir os custos de deslocamento. O aumento de carros compartilhados será uma revolução, atendendo às necessidades dos milhões de viajantes que procuram uma solução de viagem conveniente, acessível e amigável.

As perspectivas são ainda mais promissoras se o carro nunca ficar ocioso, já que ele pode, sozinho, se dirigir ao redor. Conectado a uma rede de carros inteligentes, ele poderia servir quando necessário, ajustando instantaneamente as variações na demanda de passageiros.

O futuro dos carros é brilhante. Eles estão se tornando mais conectados, mais inteligentes, mais seguros, mais eficientes ambientalmente e, eventualmente, eles podem até se transformar em um espaço para o trabalho, entretenimento, ou lazer para um bom uso. Mas uma coisa não vai mudar: sempre fará sentido reduzir o seu custo, e do ponto de vista urbanístico, otimizar seu uso também evitará o congestionamento. Agora que todos somos conectados, temos os meios para fazer essa tranformação – e minha aposta é que não tem volta.

Nicolas é CEO e Co-fundador da BlaBlaCar

 

 

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