O tráfico financiado pelo roubo de cargas

por Marcos Guilherme D. Cunha

Sempre que escrevo ou dou um parecer à mídia, procuro salientar a importância que deve ser dada ao roubo de cargas por parte dos governos. É muito clara a relação entre as ocorrências e o tráfico de drogas e de armas. Em suma, esse tipo de crime financia a bandidagem. O crescente número de notícias sobre roubos desse tipo nos dão uma ideia do quão grave é o problema.

A Secretaria Estadual de Segurança Pública divulgou que o roubo de cargas foi um dos crimes que mais cresceu, tanto na capital quanto no estado de São Paulo. O Brasil é campeão mundial no assunto, estando à frente de países como México, África do Sul, Somália e Síria, apontados com “altíssimo risco”, de acordo com a Freight Watch International, maior consultoria especializada em roubos de cargas do mundo.

A modalidade, segundo a Associação das Transportadoras, cresceu 16% no país, em um ano, e as quadrilhas estão atacando, também, dentro das cidades. Dos 17 mil casos registrados, 85% foram no Sudeste. Só no Rio de Janeiro, o aumento foi de 66%. É como se o crime organizado tivesse encontrado a mina de ouro.

Há muito tempo, o Brasil sofre com a fragilidade do sistema de segurança pública. O planejamento logístico de nosso país passa por nossas estradas e rodovias. Para ratificar isso, basta observarmos o levantamento da CNT – Confederação Nacional do Transporte, de 2014, que concluiu que os roubos de cargas provocaram prejuízos superiores a R$ 1 bilhão.

Geralmente, os crimes acontecem com armamento pesado e através de ações extremamente violentas. Depois de roubar os caminhões, os criminosos vendem os produtos e, com o dinheiro, compram armas, segundo as autoridades que acompanham os sinistros.

É notório que os governos estadual e federal não têm meios de ajudar, de forma acentuada, no combate eficiente e na erradicação deste tipo de crime. Porém, deve fornecer meios inteligentes para que a inciativa privada, por intermédio das empresas de transporte de valores e de cargas especiais, possa coibir este tipo de ação.

Para isso acontecer de fato, é preciso haver uma legislação para área de segurança privada mais moderna e atualizada que discuta, por exemplo, conceitos como o nível de blindagem dos veículos de valores e de cargas especiais que circulam em estradas, que deveria ser equivalente ao dos veículos blindados militares e ainda, tornar crime hediondo o porte de armas de uso exclusivo das forças armadas. O tema é mais complexo do que parece, ainda mais por causa da burocracia brasileira.

Nosso país vive uma crise econômica grande. O roubo de cargas traz prejuízos irreparáveis para o Brasil. O investimento em alta tecnologia e segurança feito pelas empresas de transporte de valores vai gerar redução do índice de perda de cargas e eliminará os custos com gerenciadoras de risco, tornando a logística mais eficiente à medida que reduz a burocracia e estabiliza (ou até mesmo diminui) o preço do frete. Isso proporciona uma contribuição importante para a economia nacional. É fato que ações devem ser tomadas, caso contrário, as estatísticas continuarão aumentando, tanto de roubos como do crime organizado de tráfico de drogas e armas.

 

Marcos Guilherme D. Cunha é diretor geral da Transvip Brasil, transportadora de valores e cargas especiais. 

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