Segurança em risco: Menos de 40% dos consumidores atendem aos recalls

O número de recalls no Brasil bateu novo recorde em 2017, segundo dados do Ministério da Justiça. Foram 139 chamamentos no total, sendo 87% do setor automotivo. Em cinco anos, o crescimento foi de quase 108%.

No início de fevereiro, a Toyota convocou cerca de 10,2 mil unidades de quatro modelos por problemas na deflagração do airbag. No ano passado, a mesma montadora fez o chamamento preventivo de 538 mil unidades pelo mesmo motivo, configurando o maior recall do ano. O segundo maior em 2017 foi da Fiat e envolveu 150 mil unidades, inclusive do recém lançado Argo. 

Ao passo que os chamamentos aumentam, no entanto, o índice de motoristas que realmente buscam os reparos é de menos de 40%. Mas por que tanto recalls? É o que os consumidores buscam entender.

A Revista Sobre Rodas conversou com o engenheiro mecânico Hélio Cardoso da Fonseca, especialista em perícias envolvendo veículos automotores do IBAPE/SP (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo) para saber mais sobre o assunto.

Confira entrevista completa.

Sobre Rodas: O número de recalls no País aumentou muito nos últimos anos. Por quê? Isso também ocorre em outros países?

Hélio Fonseca: Alguns são os fatores que fizeram o número de recall subir: o primeiro deles diz respeito à redução de ensaios de laboratório nos lotes de componentes fornecidos por terceiros; a redução do tempo entre o início do projeto do veículo e sua consumação nas ruas para evitar a concorrência das outras montadoras; a busca de novos fornecedores com menor custo; a instalação de fábricas em locais onde não existe a tradição da mão de obra especializada (até que se treine os funcionários a quantidade de recall pode aumentar) e a falta de mão de obra qualificada em virtude das crises por que temos passado, dentre outros.

 

Hélio Fonseca, do IBAPE: “A montadora não fica isenta até que todos os veículos convocados passem pelo recall”

 

SR: Também chama a atenção o chamado para recall de modelos recém lançados, como Argo e Kwid. Isto causa uma sensação de insegurança no consumidor, mas é motivo de preocupação? Ou devemos considerar positivo o fato de as montadoras estarem divulgando e oferecendo os reparos?

HF: Apesar de parecer ser positivo o fato das montadoras oferecerem reparos, os chamados de recall no Brasil levam em conta somente itens de segurança, diferente dos demais países da Europa e América do Norte onde um simples erro de grafia no manual gera um recall. Obviamente isso demonstra que tais problemas geram insegurança aos usuários dos veículos e população em geral, principalmente quando os chamados envolvem veículos com maior vida útil, ou seja, já podem ter ocorrido uma série de acidentes cuja responsabilidade seja advinda da falha alvo do recall.

SR: Muitos consumidores, ao que parece, deixam de atender ao chamado para reparo. Quais problemas isto pode causar?

HF: Historicamente menos de 40% dos consumidores atende ao chamado. Os motivos são principalmente a falta de divulgação correta do problema e que veículos estão envolvidos; a falta de peças para reparo imediato e, ultimamente, a redução drástica da quantidade de concessionárias autorizadas – além da falta de mão de obra com conhecimento nessas mesmas concessionárias.

SR: Em caso de não ser feito o reparo e o problema ocorrer (por exemplo, a seta de um Argo falhar e provocar um acidente), a montadora pode ficar isenta de responsabilidade por ter oferecido o reparo?

HF: A montadora não fica isenta da responsabilidade até que todos os veículos convocados passem pelo recall. Em outros países, assim que os consumidores são convocados de forma oficial, passam a ser corresponsáveis pelos problemas causados.

SR: Como evitar recalls?

HF: A forma mais eficaz para evitar o recall é a melhoria da qualidade do controle de qualidade desde o recebimento das peças de terceiros, melhoria dos procedimentos de instalação e montagem, volta dos ensaios por lotes fornecidos e testes de campo mais amplos antes da liberação dos veículos.

SR: O que fazer quando o defeito não tem solução?

HF: Não existem defeitos sem solução, alguns demandam maior quantidade de ações para saná-los, inclusive com troca de componentes de maior porte.

Cecília França

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