Via Sacra: um percurso de adoração e fé para os cristãos

Quase 2 mil anos atrás, em um dia como hoje, Jesus completava sua missão na velha Jerusalém, ressuscitando três dias após sua crucificação para espiar os pecados dos homens, dando origem à Páscoa. Sua agonia marcou para sempre a história da humanidade e pode ser revivida ainda hoje por fieis cristãos na Terra Santa, onde Jesus nasceu, viveu e morreu.

Localizada entre o rio Jordão e o mar mediterrâneo, a área atualmente é dividida entre Israel, Cisjordânia e Jordânia e tem seu valor histórico para as três grandes religiões monoteístas do mundo: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo.

A caminhada de Jesus com sua pesada cruz de madeira é chamada de Via Sacra, Via Crúcis ou ainda Via Dolorosa, um percurso de cerca de 600 metros que tem início no Pretório e termina onde hoje é a Basílica do Santo Sepulcro, local da crucificação e do sepultamento de Cristo.

A reportagem da Sobre Rodas conversou com duas cristãs católicas que estiveram na Terra Santa: a professora Selma Costa e a advogada Camila Françolin de Souza. Após ouvir sobre o impacto da viagem em suas vidas e espiritualidade, concluímos: reviver os passos de Jesus Cristo é uma experiência transformadora.

Selma mostra uma foto de Jerusalém. Crédito: Cecília França

 

A professora Selma Costa, 51, esteve na Terra Santa em outubro do ano passado em uma excursão organizada pelo Padre Geraldino Rodrigues de Proença, da Diocese de Apucarana (PR). Ela descreve como “uma emoção indescritível” percorrer o caminho pelo qual Jesus carregou sua cruz. As condições das vias estreitas e o clima local, de calor intenso, conferem uma dificuldade extra ao percurso – e intensificam seu valor religioso.

“O sofrimento de Cristo naquela viela foi muito forte. Ele certamente escorregou muito, ficou muito esfolado. A gente tinha que parar para respirar”, ressalta. Selma conta que um Frei alemão chamado Bernard, guia de seu grupo, trocou as vestes brancas por pretas para percorrer a Via Sacra, uma forma de simbolizar o sofrimento de Jesus.

“Percorrer a Via Sacra é entender o quanto Cristo nos amou”, afirma a professora.

A intensa movimentação de turistas e comerciantes transformam a via em algo movimentado e barulhento. Para manter a concentração, o guia de Selma orientou o grupo a rezar e cantar, a fim de tirar o maior proveito da experiência.

“Para mim foi uma demonstração de fé única, cada estação uma pausa, silêncio, uma meditação catequética com o Padre Bernard, para que compreendêssemos o mistério do amor de Jesus por nós e que permanece ainda hoje”.

O percurso

Nossas duas entrevistadas revelaram dificuldade em registrar com fotos a caminhada, em virtude da quantidade de turistas e da falta de tempo. O percurso da Via Sacra compreende 14 estações. Cada uma delas sinaliza um momento relevante do trajeto feito por Jesus carregando a cruz. Acompanhe.

1ª estação – Onde Jesus foi condenado: Pretório ou Porta do Leão.

2ª estação – Onde Jesus pega a cruz: dividida em duas capelas, a da Flagelação e a da Condenação.

3ª estação – Jesus cai pela primeira vez: no local foi construída uma igreja católica armênia.

4ª estação – Jesus encontra sua mãe: entrada da Igreja de Nossa Senhora do Espasmo.

5ª estação – Simão Cirineu ajuda Cristo a carregar a cruz: no local existe um pequeno oratório franciscano.

Entrada da 5ª estação, registrado por Camila Françolin de Souza

 

6ª estação – Verônica limpa o rosto de Jesus: no local há uma pequena capela de Santa Verônica.

7ª estação – Jesus cai pela segunda vez: uma coluna dentro da capela franciscana marca o local.

8ª estação – Jesus consola as mulheres de Jerusalém: local marcado por uma pequena pedra com uma cruz latina na parede do mosteiro de São Caralampo.

9ª estação – Jesus cai pela terceira vez: última estação fora da Basílica, é marcada por uma coluna onde uma cruz de madeira fica apoiada.

10ª estação – Vestes de Jesus são retiradas: a capela da Divisão das Verstes fica no pátio externo da basílica.

11ª estação – Jesus é pregado na cruz: no andar superior da Basílica, um mosaico no teto marca o local onde Jesus foi pregado na cruz.

12ª estação – Crucificação e morte de Jesus: uma pedra embaixo do altar marca onde seria o ponto exato em que a cruz de Jesus foi erguida.

13ª estação – Jesus é retirado da cruz: Pedra da Unção, onde Maria retirou Jesus da cruz para prepará-lo para o sepultamento.

14ª estação – Jesus é sepultado: espaço bastante reduzido, apenas uma pequena câmara no vão central da grande rotunda da Basília.

Abaixo, registros feitos por Selma Costa dentro da Basília do Santo Sepulcro:

 

Pedra onde foi fincada a cruz de Jesus

Selma em Israel. Fotos: Arquivo Pessoal

 

Camila Françolin de Souza, 33, visitou a Terra Santa em 2015 acompanhada dos pais, Benedito e Odete, em uma excursão organizada pelo Monsenhor da Diocese de Apucarana. Para ela, a entrada no Santo Sepulcro foi uma experiência única.

“O local fica dentro do santuário e é fechado como num verdadeiro jazigo. É pequeno, baixo e com pouca luz. Só é possível permanecer lá dentro por alguns instantes, mas é um momento em que você se sente plenamente conectada a Deus, onde você se põe a pensar em Jesus morto e na Sua Ressureição. É realmente Divino”, resume.

Camila e os pais também percorreram a Via Sacra relembrando todos os momentos da Paixão de Cristo, porém, houve uma certa decepção. Como os cristãos são minoria na Terra Santa, muitas estações são controladas por judeus ou muçulmanos, além disso, o intenso comércio e o barulho nas pequenas vielas que levam ao Santo Sepulcro impedem a concentração dos que estão ali para peregrinar.

Emoção

Para Camila, um dos momentos de maior emoção na peregrinação à Terra Santa foi na visita ao Getsêmani, santuário do Horto das Oliveiras, onde há a pedra na qual Jesus teria orado a Deus para que afastasse o que viria, mas dizendo que obedeceria a sua vontade.

“Toquei naquela rocha e pensei no tamanho da Sua agonia por saber todo o sofrimento pelo qual passaria”, afirma, citando Lucas: “(…) e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra.”

Camila resume a experiência como uma viagem transformadora, de fortalecimento da fé e como pessoa. “Voltei muito feliz por tudo que vivi e conheci, pelas sensações que experimentei e pelo muito que aprendi sobre a história, sobre a vida e principalmente sobre a humanidade”, finaliza. 

Camila e os pais, Benedito e Odete, no Mar da Galileia

Renovação do batismo no Mar da Galileia. Fotos: Arquivo pessoal

Cecília França

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