Grã-Cruz Ordem das Cataratas é homenagem que Foz devia a Dona Lea, diz prefeito

O prefeito Chico Brasileiro entregou, na noite de sexta-feira (26), a comenda Grã-Cruz Ordem das Cataratas, a maior honraria concedida pelo município à ex-primeira dama Lea Amália Leone Vianna, 93 anos, pelos relevantes serviços prestados na história de Foz do Iguaçu. Dona Lea, como é carinhosamente chamada, fundou a Guarda Mirim em 1977, instituição que ao longo dos quase 46 anos, contribuiu com a formação de aproximadamente 40 mil adolescentes. “Essa é uma homenagem que a cidade devia a Dona Lea”, comentou Chico Brasileiro.

A ex-primeira dama chegou em Foz do Iguaçu em 1974, acompanhando o marido, o ex-prefeito Clóvis Cunha Vianna e os três filhos – Lauro Luiz Leone Vianna, Luiz Fernando Leone Vianna e Lea Rita Leone Vianna Clementi. Com o passar dos dias, uma cena chamou sua atenção, quando viu um garoto pequeno com uma caixa de engraxate sentado na escadaria do hotel onde estava hospedada. Ao falar com ele, descobriu a dura realidade que o mesmo vivia – a mesma dos milhares de trabalhadores que chegavam ao município atraídos pela obra da Itaipu Binacional.

O que começou com um pequeno grupo de nove crianças, aumentou para mais de 40 adolescentes que formaram a primeira turma da Guarda Mirim. “Esta é uma homenagem que a cidade deve a Dona Lea pela sua história, pela sua dedicação e pelo serviço prestado. Essa homenagem, como é a medalha mais honrosa que o município oferece, tem que ser oferecida aquelas pessoas que, por merecimento, que deixaram um legado para Foz do Iguaçu”, destacou Chico Brasileiro.

“Além da instituição, acredito que ela foi quem iniciou o princípio de cuidar das crianças de Foz. Desde as crianças menores, dos primeiros anos de vida”. No entendimento do prefeito, Dona Lea pensou, num período onde não existiam creches ou CMEIs (Centros de Educação Infantil), também nessas crianças.

“Ela tem uma história que é das mais belas que qualquer cidadão pode ter e que marcou muito a história de Foz do Iguaçu e vai marcar pra sempre”. Chico Brasileiro disse que já participou de muitas solenidades, mas que a homenagem a Dona Lea era disparado a mais bela de todas. “É o reconhecimento a alguém que fez a transformação humana, que deixa um legado muito mais profundo”.

“Celebrar a vida é homenagear esta mulher. Ela celebrou e acreditou no ser humano, este amparo que deu para tantos jovens. Foz do Iguaçu é uma cidade que é destino do mundo e a Dona Lea tem uma importância fundamental na construção desta história”, completou o prefeito, acompanhado da primeira-dama Rosa Maria Jerônymo.

Maior realização

“Mãe da Guarda Mirim”, como também é carinhosamente chamada, Dona Lea agradeceu a homenagem e lembrou do ano de 1984, quando retornou com a família para Curitiba, mas que nunca deixou de pensar em Foz do Iguaçu e a Guarda Mirim, que ela classificou como “maior realização da minha vida. “Fiquei muito feliz, quando soube deste gesto porque nunca deixei de ter um relacionamento muito grande com as crianças”.

“Hoje são homens feitos, casados, têm filhos, netos. Isso me trouxe uma realização de tudo que fiz em Foz do Iguaçu. As cartinhas, as mensagens que recebo”, revelou. Dona Lea também falou dos desafios do começo, quando resgatou nove meninos das ruas e foi em busca de um lugar para abrigar as crianças e dar início ao projeto que até hoje é reconhecido por todos, pelo atendimento que é prestado para os adolescentes que têm a oportunidade de frequentar a instituição.

A fundadora da Guarda Mirim lembra que reservava sempre um dia da semana, às quartas-feiras, para conversar com os jovens e sempre se emocionava com os casos. “Muitos que jamais iria citar, mas que foram difíceis para serem resolvidos. Graças a Deus procuramos sempre dar a volta por cima com muito amor, carinho e paciência. Chegava e pedia para parar de chorar e hoje todos são homens, casados, tem filhos”, recordou

Dona Lea contou que buscava ajuda junto ao comércio para manter o trabalho, inclusive um senhor que ganhou na loteria em Curitiba e se voluntariava para comprar sapatos. Muitos agricultores contribuíram doando alimentos como batata, arroz, feijão. “Mas não tinha uma coisa assim firme, dizer vou contar com tanto, não, contava comigo mesmo. Uma vez fiz um bingo na Avenida Brasil, aí foram na prefeitura e disseram ‘o Clovis (que era prefeito na época), uma senhora está fazendo jogo na Avenida Brasil, o senhor tem que dar um jeito nela’”.

A fundadora da instituição contou que o prefeito mandou eles conversarem com ela, que devia ter uma razão muito grande para fazer o bingo na avenida. “E foram lá e conversaram comigo. Falei, querem que pare com o jogo, só paro quando quem mandar pague a conta do mercado, ai eu paro, caso contrário continuo, e continuei”, afirmou. Hoje ela diz que se pergunta como teve coragem de fazer tudo isto, pedindo, indo nos bancos, em todos os lugares buscando ajuda.

Coração enorme

Emocionado, o filho Luiz Fernando Vianna, ex-diretor geral brasileiro da Itaipu, disse que a mãe tem uma história muito ligada com o município. “O coração dela está em Foz do Iguaçu. Tem muitas guardinhas da época, que hoje estão aqui, e que a gente chama de irmãos, porque ela sempre os chamava de filhos. São um orgulho para todos nós”, ressaltou ele, informando que o discurso foi escrito pela mãe para marcar a homenagem.

O vereador Ney Patrício, que apresentou o projeto aprovado na Câmara, se dirigiu aos ex-guardinhas, como são conhecidos aqueles que passaram pela instituição desde 1977. “Não existe ex-Guarda Mirim, os exemplos lá aprendidos o tornam Guarda Mirim para sempre, é uma referência que temos e não podemos deixar isto passar. A semente que a Dona Lea plantou, continua dando bons frutos para a sociedade”, completou.

A solenidade contou ainda com participação do presidente da Câmara, João Morales, e da vereadora Anice Gazzaoui. O presidente Hélio Cândido do Carmo disse que a ideia era entregar a homenagem nos 46 anos da instituição, no dia 26 de julho, mas que a opção foi por antecipar o ato. “Difícil encontrar motivos para homenagear alguém tão importante para a história de tantas pessoas”, completou Hélio do Carmo, que ingressou pré-adolescente na Guarda Mirim, no início dos anos 1980.

O secretário de Administração e ex-Guarda Mirim, Nilton Bobato, também participou do ato e relembrou dos primeiros anos na instituição, que foi criada nos moldes militares. “Quando fui aprovado no curso de cabo em primeiro lugar, sendo o mais magro, a Dona Lea estava lá para apoiar”, disse.

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