SUVs já representam quase metade das vendas de carros novos no Brasil, mas abocanham apenas 13% da fatia de usados

Fenômeno no mercado nacional desde o surgimento do Ford EcoSport, em 2003, que “popularizou” o segmento, os SUV´s (sport utilities vehiches) desembarcaram no país junto com os carros importados, no início dos anos 90. Desde então, eles transformaram-se em coqueluche para as famílias brasileiras, praticamente aniquilando outros segmentos que ocupavam essa preferência, como as stations (peruas) e os monovolumes. Os jipinhos viraram febre no Brasil. Os dados de vendas confirmam: no primeiro semestre de 2023, eles bateram o histórico percentual de 46,85% das vendas de automóveis de passeio e comerciais leves zero km.

É claro que esse sucesso nas vendas tenderia a se alastrar para o segmento de seminovos e usados. E ele se prolonga, indiscutivelmente. Entretanto, o ticket médio desses carros continua alto, visto que não há nenhum exemplar à venda nas listas de modelos zero km abaixo de R$ 100 mil, a não ser quando é listado como PCD. Essa variável aparece no segmento de usados: embora faça todo esse sucesso nos novos, somente 13% da procura de veículos seminovos e usados pertencem à categoria.

O levantamento foi feito com exclusividade pela Mobiautoautotech que mais cresceu em 2022 (aumento de 130% no faturamento) e um dos três maiores marketplaces de carros usados do país. Ele mapeia o volume de acessos de compradores frente às centenas de milhares de anúncios da plataforma, separando-os por segmento. “Esse retrato é fiel às tendências claras e objetivas de compra do consumidor brasileiro que está interessado em um carro usado. É o mapa da mina”, destaca o economista Sant Clair de Castro Jr., consultor automotivo e CEO da Mobiauto.

A pesquisa vai além dos percentuais distribuídos pelos 6 primeiros meses de 2023. Ela compara os dados com anos anteriores (2022 e 2021), retratando alguns desdobramentos do que houve com o mercado automotivo no período mais agudo da pandemia.

De acordo com Sant Clair, as variações percentuais são todas justificadas pelo turbulento período que vivenciamos no país em 2021 e 2022, principalmente com a falta de modelos zero km. Para relembrar: houve uma crise mundial de abastecimento de semicondutores nesses anos, que são autopeças eletrônicas que são montadas em todos os carros zero km, do Fiat Mobi ao Land Rover.

A indústria ressentiu-se dessa falta de componentes e foi obrigada a diminuir a produção. Mas essa queda acometeu os carros mais baratos, à medida que os pequenos lotes de semicondutores que chegavam às linhas eram destinados a abastecer os carros mais caros. “Funcionava assim: suponha que a Stellantis recebesse um lote de peças. Em vez de usá-las pra fazer Fiat Mobi, ela direcionava os componentes à produção de Jeep Commander, exatamente pra aproveitar o faturamento de modelos mais caros”, lembra Castro Jr.

A consequência imediata desse efeito foi a brusca diminuição de oferta de carros mais baratos nos showrooms de concessionárias zero km. “Os seminovos dispararam de preço. E observe como os hatches tiveram uma procura acentuada em 2022. Como você não conseguia comprar um carro novo, você partia para a compra do seminovo”, explica. Tanto isso foi fato que, em 2023, regularizados os volumes de produção, os veículos mais acessíveis já retornaram ao patamar de cerca de 41 ou 42%, como ocorria antes da pandemia.

Por que os SUVs caíram?

Para o CEO da Mobiauto, a queda no interesse pelos utilitários-esportivos seminovos decorreu em razão da alta nos preços, principalmente quando você se distancia para olhar o comportamento dos valores nos últimos três anos. “Os SUV´s zero km estão entre os veículos que mais foram reajustados de 2021 pra cá. Os seminovos acompanharam essa alta e o poder de compra das pessoas ficou comprometido, pois a renda não cresceu na mesma proporção”, esclarece.

E por que as picapes cresceram?

O levantamento executado pela Mobiauto fornece outra leitura inédita: a alta das picapes. Com a média histórica de 7% dos acessos, elas cresceram para 10% neste ano. Sant Clair arrisca um palpite. “Eu me atrevo a dizer que as picapes estão tirando clientes cativos dos SUV´s. Elas também ficaram mais caras durante a pandemia e, pela lógica anterior, deveriam ter diminuído o número de acessos. Mas essa alta nos diz o seguinte: uma parcela dos clientes que adquiriria um SUV passou a considerar a picape como opção de compra”, comenta, destacando que há o mérito do segmento em estar fornecendo opções de compra cada vez mais elaboradas e luxuosas, como Fiat Toro, Chevrolet Montana e, mais recentemente, Ram Rampage.

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