Março Mês da Mulher: Com carisma e qualidade, taxistas derrubam preconceitos

Mulher no trânsito não é mais surpresa, mas dirigindo um táxi ainda pode causar espanto em alguns. Marlene Barros Pereira e Keyti Rocha são duas veteranas da profissão em Londrina e já lidaram com situações de preconceito, porém, com profissionalismo, derrubaram todas as barreiras.

Marlene é taxista há 13 anos. Herdou a profissão do pai e também tem irmão e marido taxistas. Quando a reportagem da Sobre Rodas a questionou sobre as dificuldades da profissão, Marlene lembrou de uma situação emblemática, que a define como profissional.

“Um dia eu estava no aeroporto e um homem se aproximou e perguntou se era eu que estava na vez. Eu disse que sim e ele respondeu ‘É que eu preciso de uma corrida para São Paulo, mas não sei, com mulher…’ Eu disse para ele ir para o carro de trás”, relembra. “Mas a mulher dele veio até mim e disse que queria, sim, fazer a viagem comigo. O marido iniciou a viagem no banco de atrás, mas depois de um tempo passou para a frente e até dormiu. Toda vez que eles estão no Brasil sou eu que faço corrida para eles”, comemora.

Conquistar os clientes não é uma dificuldade para Marlene. Comunicativa, ela acaba transformando-os em amigos, por isso, tem muitas corridas fixas. “Eu gosto de conversar, gosto de gente. Eu gosto de estar em contato com as pessoas, me sinto bem”, explica.

Segundo Marlene, muitos de seus clientes são idosos, público ainda mais exigente, o que faz com ela busque se aperfeiçoar para manter sempre a qualidade. “Eu faço com muito amor, tudo dentro da lei, porque é algo que eu quero fazer sempre”, garante.

Foi com a renda do táxi que Marlene formou a filha em Direito e também é com ele que ela pretende custear os estudos do filho mais novo, de apenas dois anos.

“Se tiver que formar mais ele na faculdade, vai ser do táxi”, diz, sorrindo.

Foto: Cecília França

Por acaso

Há 14 anos o trabalho como taxista “caiu no colo” de Keyti Rocha. Para ajudar o irmão que estava desempregado, ela trocou o carro por um táxi. Durante o dia, ela usava para viagens de trabalho para uma loja de atacado; à noite, ele fazia as corridas. Porém, quando o irmão arranjou um táxi para trabalhar o dia todo, Keyti ficou sozinha para manter o veículo.

“Táxi dá despesa, então, comecei a trabalhar nos dias em que não viajava pela empresa, e fui fazendo uma clientela fixa. Quando eu vi já estava deixando de viajar para manter os clientes do táxi”, relembra.

Desde então, a clientela fixa aumentou e Keyti acredita que seus diferenciais como motorista contribuam para a fidelização dos clientes.

“Eu acho que as mulheres dirigem bem. Meus clientes dizem que têm muita segurança para viajar com a família, para poder descansar durante a viagem. Eu também procuro ter conhecimento da cidade, saber o que os clientes precisam, estudar os bairros, saber em que região ficam. Eu tento me manter informada para poder atender bem os clientes”, detalha.

Foto: Arquivo pessoal

Preconceito

Keyti diz ter enfrentado mais preconceito por parte de colegas do que de clientes. Ela conta que superou a resistência deles se engajando mais nas causas da categoria. “Hoje eu tenho um pouco mais de liberdade com eles porque sou muito participativa em tudo, inclusive trabalho à noite também e isso acabou me aproximando mais do mundo deles”, afirma. Na opinião da taxista, alguns colegas imaginam que as mulheres têm menos dificuldades neste serviço por fazerem clientes mais com facilidade ou trabalharem em horários mais tranquilos, o que não corresponde à realidade.

“A mulher, para enfrentar o mercado, tem que se adaptar a tudo que ele oferece, tanto os lucros quanto as dificuldades”, finaliza.

Cecília França

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