No setor automotivo, santo de casa faz milagre

A Renault costuma dizer que o Paraná é sua casa no Brasil. Conhecendo a longevidade da relação entre o Estado e a montadora, que completa 20 anos em 2018, entendemos o motivo de tal identificação. E este relacionamento estreito se reflete nas vendas. Por aqui, modelos da Renault têm desempenho bastante superior ao apresentado nacionalmente, contrariando o ditado popular de que “Santo de casa não faz milagre”.

Captur, da Renault: 10º no Paraná não figura nem entre os 40 mais no País

Olhem o desempenho do Captur, SUV que ocupou posição abaixo da 40ª no ranking nacional dos mais vendidos em 2017: por aqui, é o 10º veículo mais emplacado, considerando automóveis e comerciais leves. O Sandero também ganha duas posições no ranking quando comparamos a lista local à nacional, saindo da 6ª para a 4ª colocação. Até mesmo o compacto Kwid, que teve apenas seis meses cheios de vendas no ano, conquistou lugar entre os 20 mais no Paraná – feito que não alcançou nacionalmente.

A Volkswagen, outra montadora sediada no Paraná há quase duas décadas, também agrada mais o mercado local que o nacional, relativamente, com seus modelos mais vendidos. Por aqui, o Gol conquistou a 2ª posição em 2017 e a Saveiro um nobre 7º lugar. Nacionalmente, a picape ficou com a 14ª colocação.

Acontece no Nordeste

Viajando um pouco, parei na Bahia, onde a Ford tem fábrica há 17 anos na cidade de Camaçari. Na terra do Senhor do Bonfim, o EcoSport ainda domina o segmento de SUVs, ocupando a 10ª posição no ranking de mais vendidos – bem diferente da 25ª nacional.

Linha de produção da Ford em Camaçari, de onde sai o veterano EcoSport

Em Pernambuco, onde a Fiat Chrysler mantém fábrica da marca Jeep, o Compass obteve desempenho ainda melhor que o nacional – o modelo fechou o ano como SUV mais vendido do País. Entre os pernambucanos, ele foi o 8º veículo mais emplacado ao longo do ano. Também a picape Toro se destacou, com a 7ª colocação.

O que explica

Ter fábrica em um determinado Estado significa manter projetos sociais que colaborem com o desenvolvimento da população local. Todas as montadoras que conheço fazem isso como contrapartida ao impacto de seus negócios. Essas iniciativas, além de positivas, contribuem para fixar a marca na mente da população.

As montadoras também podem se fazer presentes na comunidade por meio de apoio ao empreendedorismo, à cultura e ao esporte – caso do patrocínio da Renault aos times de futebol de Londrina e Maringá, por exemplo. Tudo é visibilidade.

Renault patrocinou o Londrina Esporte Clube por 2 anos consecutivos

Estar próximo da fábrica também possibilita, ao menos em tese, oferecer melhores condições de compra ao consumidor, gerando maior fluxo de vendas. Não comprovei, mas acredito que a Renault (para ficarmos no caso paranaense) tenha um número maior de concessionárias no Paraná, proporcionalmente. Sendo assim, o acesso do consumidor é facilitado não só ao produto mas também aos serviços de pós-venda.

Eu poderia dar outros exemplos aqui que demonstrariam por A mais B que santo de casa faz milagre no setor automotivo, como a Fiat em Minas Gerais e a Nissan no Rio de Janeiro. Identificação do consumidor com a marca, algo a ser buscado perenemente pelo marketing, reverte em vendas. Estar em primeiro na cabeça do consumidor que quer um carro novo é sair na frente na briga por share, afinal, como diz outro sábio ditado popular: “Quem não é visto não é lembrado”.

Cecília França é jornalista, com passagens pelos diários Tribuna do Norte e Folha de Londrina, onde iniciou da cobertura do setor automotivo. É colunista e mantém o blog Autos Papos (www.autospaposlondrina.com).

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